domingo, 15 de junho de 2008

Temporais


Temporal; Cidreira/RS

"Nada de novo há no rugir das tempestades"(Maiakovski)

Um dia falei ao meu amigo Heitor do meu fascínio pelas tempestades e do quanto as calmarias me amedrontavam... Ele me mostrou este texto que fizera...Eu pensei numa canção de Milton Nascimento que diz que "Certas canções que ouço cabem tão dentro de mim que perguntar carece como não fui eu que fiz".
Pedi licença para publicar aqui o texto dele... Era o texto que eu gostaria de ter escrito...É forte, intenso, bonito... Explique-me, Heitor: como não fui eu que fiz este texto?

Foram tantas idas e vindas... tantos desencontros, encontros e reencontros...entendimentos e desentendimentos...mas vc sabe que sou "raio, relâmpago e trovão"... Não podemos negar uma coisa: nosso amor pelos temporais é o mesmo... e isso nos une...

Um dia faço um poema pra ficar ao lado do seu...



MEU AMOR PELOS TEMPORAIS
(Heitor)

Precisamos de ventos que arremessem nossas naus nos mares de todo mundo
De ventos calamitosos, arrebatadores, que ventem corpos e almas
São os ventos que precisamos

Precisamos de ventos que tragam raios e temporais
Daqueles que nos assustavam e faziam nossos corações de criança dar saltos dentro do peito

Precisamos de ventos vendavais, não de brisas comportadas que mal desalinham penteados
Mas de furiosos ventos que arrastam estruturas, demolem igrejas, destroem templos
Ventos que arrastam pensamentos, dissolvem idéias, solapam medos.
Precisamos de ventos que tenham o cheiro dos cravos de um certo abril português
Dos maios e das mães da praça,

Ventos que levem as gaivotas para o deserto
E que tragam as areias do sertão para os palácios de governo

Precisamos de ventos parideiros,
Que deles germinem revoltas e motins
Gargalhadas e o rufar de tambores dos obreiros argentinos
Que atravessem nossos ossos e arrombem grades em calabouços
Que destelhem os sótãos de nossas memórias e tragam à luz os diários de nossas batalhas

Precisamos de ventos que sequem nossas lágrimas
Que levem às alturas as pipas de nossos meninos
Que mostrem aos homens que tudo que encobre pode ser arrancado
Que tudo que está pode partir no turbilhão
E que se ventar muito forte
Mas muito forte mesmo
Seremos capazes de voar

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que vc é um temporal, Meg!