sábado, 2 de agosto de 2008

Fases




Ainda nado em mar revolto
quando estou crescente
Ainda deságuo em tempestades
quando estou cheia
Ainda choro e naufrago
quando estou minguante
Ainda deixo nascer um pouco de luz em mim
quando tudo se renova...

Em raiva ou em rima...

Trouxe pra cá o meu poema preferido de Leminski, para ficar por aqui nestes dias em que a raiva sufocou a rima...


Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
ou em rima.

Paulo Leminski

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Lua



Bela bailarina
Vestida de branco
Pareces te mover
ao som do vento
Enquanto as cortinas de nuvens
se abrem pra tua luz
Eu descobri que és tu
que coreografas meu destino,
conduzes meu coração
e me fazes sentir menina
Lá do teu palco distante
guias os passos trôpegos dos bêbados
fascinas os loucos amantes
e iluminas meu caminho
Preenches com tua alvura
as lacunas mais escuras
Em busca de mim mesma,
te convido pra dançar
És tão minha e tão de todos ...
Como posso assim te amar?

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Da minha janela... mais um luar...

Luar roubado...



Roubei este luar... rs Este luar é do Aurélio Crespo, um fotógrafo-poeta português que conheci há um tempo... Nossos caminhos se cruzaram um dia por acaso... As fotos dele me inspiravam, pois por si só eram plenas de poesia... Ele é especialista em pores-do-sol e me deu alguns de presente...Em troca, dei-lhe palavras...
Mas... vou confessar que eu gosto mesmo é de luares... Então, trouxe este pra cá... Por quê? Porque é o único luar das mil fotos que já vi dele...Por enquanto...deixo-o aqui no meu céu...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Luar da Li




Hoje recebi este luar de minha amiga Li...
Presente inesquecível, como inesquecível é nossa amizade...que para mim é um presente da vida...

domingo, 15 de junho de 2008

Temporais


Temporal; Cidreira/RS

"Nada de novo há no rugir das tempestades"(Maiakovski)

Um dia falei ao meu amigo Heitor do meu fascínio pelas tempestades e do quanto as calmarias me amedrontavam... Ele me mostrou este texto que fizera...Eu pensei numa canção de Milton Nascimento que diz que "Certas canções que ouço cabem tão dentro de mim que perguntar carece como não fui eu que fiz".
Pedi licença para publicar aqui o texto dele... Era o texto que eu gostaria de ter escrito...É forte, intenso, bonito... Explique-me, Heitor: como não fui eu que fiz este texto?

Foram tantas idas e vindas... tantos desencontros, encontros e reencontros...entendimentos e desentendimentos...mas vc sabe que sou "raio, relâmpago e trovão"... Não podemos negar uma coisa: nosso amor pelos temporais é o mesmo... e isso nos une...

Um dia faço um poema pra ficar ao lado do seu...



MEU AMOR PELOS TEMPORAIS
(Heitor)

Precisamos de ventos que arremessem nossas naus nos mares de todo mundo
De ventos calamitosos, arrebatadores, que ventem corpos e almas
São os ventos que precisamos

Precisamos de ventos que tragam raios e temporais
Daqueles que nos assustavam e faziam nossos corações de criança dar saltos dentro do peito

Precisamos de ventos vendavais, não de brisas comportadas que mal desalinham penteados
Mas de furiosos ventos que arrastam estruturas, demolem igrejas, destroem templos
Ventos que arrastam pensamentos, dissolvem idéias, solapam medos.
Precisamos de ventos que tenham o cheiro dos cravos de um certo abril português
Dos maios e das mães da praça,

Ventos que levem as gaivotas para o deserto
E que tragam as areias do sertão para os palácios de governo

Precisamos de ventos parideiros,
Que deles germinem revoltas e motins
Gargalhadas e o rufar de tambores dos obreiros argentinos
Que atravessem nossos ossos e arrombem grades em calabouços
Que destelhem os sótãos de nossas memórias e tragam à luz os diários de nossas batalhas

Precisamos de ventos que sequem nossas lágrimas
Que levem às alturas as pipas de nossos meninos
Que mostrem aos homens que tudo que encobre pode ser arrancado
Que tudo que está pode partir no turbilhão
E que se ventar muito forte
Mas muito forte mesmo
Seremos capazes de voar

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Namoro...




Namorar...
tem gosto de pôr-do-sol....misturado com luar...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Poema amarelo...


Águas Claras/RS

Vou te oferecer hoje um poema
sem versos...nem estrofes
Ele tem pétalas e folhas
e elas traduzem o sol
Não tem rimas, nem métrica
e se sustenta em tênues galhos
Balança ao som do vento
mata a sede com o orvalho
Com ele, enfeita teu caminho
e colhe dele o pólen mais fértil
Semeia a poesia
E quando estiveres sozinho
deixa-o entrar pelos poros
Ele é frágil, mas tão belo
Guarda-o para as noites escuras
e deixe que ele floresça...
em tons de amarelo

domingo, 1 de junho de 2008

Sonhos de algodão

"Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram que os ventos às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro, um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro, um disparo pára o coração...
Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter"
(Engenheiros do Hawai)



Da janela, durante vôo ao Rio


Queria falar das nuvens
em que podíamos brincar
Queria falar sobre os sonhos
que hoje se perdem entre céu e mar
Queria falar do sol
com seu brilho quase lunar
Queria falar dos voos
que desistimos de alçar
Queria falar dos desencontros
que insistimos em relembrar...
Queria falar dos castelos
que se erguem e se desfazem no ar


Da janela, durante voo a BH

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Síndrome....

Consulta a um psiquiatra muito mais confuso do que eu


- Doctor...
Falta-me o ar e o chão,
tremo, suo frio
e sinto saltar o coração
Meus pensamentos são rápidos,
confusos, em turbilhão,
distorço a realidade
Sinto que vou perder o controle
e não tenho mais tranqüilidade
Perco o equilíbrio,
fico tonta,
dói-me o peito,
parece-me que vou enlouquecer
e se não tiver mais você vou morrer...
Que é isso, doctor? Que eu tenho?
Será alguma fobia?
É angústia, pânico ou ansiedade??
Preciso de medicamento, terapia?
- Não, senhorita...
o que você tem... só o tempo cura...
o que você tem... é saudade...

terça-feira, 20 de maio de 2008

Milagre da flor



Flor no caminho do templo budista de Três Coroas

"Se fosse possível observar claramente o milagre de uma única flor, toda a nossa vida se transformaria."

Paz...





Guerreiros armados
vão lutar
Um deles empunha a espada com altivez
O outro se esconde atrás de escudos invisíveis
Um é exímio gladiador
corajoso, leal, decidido
O outro tem medos,
trapaceia a si mesmo
e foge de embates
em que pode sair ferido
Um aprendeu a perder
o outro só se contenta ao vencer
Um estuda o território do inimigo
com invejável calma
o outro é impetuoso, imprevisível
e traz um tormento na alma
Um tem olhar brando e gentil,
escolhe palavras
e sabe esperar
o certo momento
outro traz mágoa nos olhos
é capaz de empunhar um fuzil
e intempestivamente
atirar contra o vento
Um traz um doce sorriso
o outro, uma amargura no olhar
Um é justo e dorme tranqüilo
O outro se alimenta de ressentimentos
e se torna seu próprio algoz
Um é mansidão e equilíbrio
o outro ataca feroz
Um deles sucumbe à dor
o outro destrói com rancor
Os dois guerreiros
vivem em eterna luta...
Eles se enfrentam dia a dia
medindo forças desiguais
Um se refugia na poesia
o outro se esconde em sombrais
Os dois se escontram
ao se olharem no espelho
e se confundem...
demoram a se reconhecer
Em combate,se enfrentam
mas já não sabem quem é quem
Exaustos, desistem
acabam confusos, espantados,
descobrindo que são um único ser...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Bicho-preguiça


Ao meu filho... que me ensinou o que é amor...

No quarto ao lado
mora um bicho-preguiça
que tem um jeito de quem veio ao mundo a passeio
e diz que quer ser bateirista

Preservo seu habitat
com roupas espalhadas pelo chão
livros, pc, msn, videogame
telefone, mp4, televisão,
e, de quebra, um violão...

É um bonito bichinho
que tem uns braços compridos
e mãos desajeitadas
Ele me abraça com carinho
e me faz sentir amada

Sem eu contar uma história,
ele nunca dormia
Não sabia ele que quando eu lhe dava colo
ele é que me protegia

Meu bichinho tem sorriso raro
e olhar profundo
de um azul tão límpido
que não sei se é céu ou mar
Para ele, eu reinventaria o mundo...
um mundo sem dor em que todos soubessem amar

Tem uma inocência travessa
morando no coração de menino
E torço pra que possa ser
o dono do seu destino...

Às vezes me reconheço em seus gestos
e nas coisas que me diz
e meu maior desejo
é que ele seja... um ser feliz...



Ru... vc é meu coração...

domingo, 11 de maio de 2008

Pureza...



À minha filha, no dia das mães..


Quando olho em teu olhos
sinto que vieste pra me ensinar
a brincar com nuvens
vieste pra me mostrar os dias de sol
e para me ensinar a brincar com pingos de chuva
a pular em poças d´água
e a sentir o perfume das flores no jardim
vieste pra me apresentar o cavaleiro, a princesa e o dragão
que moram na lua
Vieste pra me provar que não podemos desistir
mesmo que o caminho seja duro
Vieste pra encher minha vida de ternura
pra mostrar o azul depois da tempestade
pra me dar coragem pra seguir viagem
E com tua pureza, contagiar-me de alegria
Vieste pra que eu tenha vontade de que minha vida dure
até ver que podes seguir sozinha...
Vieste pra me provar que posso ter meu coração
batendo em outro peito
e que amor é alimento...

Ra...te amo, te amo, te amo..

Tenho medo

"Um amigo falso e maldoso é mais temível que um animal selvagem; o animal pode ferir seu corpo, mas um falso amigo irá ferir sua alma."


Tenho medo de pessoas que fingem amor
Mas tenho mais medo daquelas que não aprenderam a amar
Tenho medo de trair princípios
Tenho medo da força que o ódio dá
Tenho medo da solidão
Tenho medo do lobo feroz que habita meu coração
quando está ferido
Tenho medo de não dominar a dor
Tenho medo da lágrima que vem sem controle
Tenho medo do beijo que nunca foi dado
Tenho medo do oceano que ruge sem medo
Tenho medo do vento açoitando o tempo...
Tenho medo dos homens que escravizam e humilham
Tenho medo das pessoas que traem
Tenho medo do ciúme que cega
Tenho medo da calmaria depois das tempestades
Tenho medo da lâmina que extirpa a gangrena
mas junto o membro, sem piedade
Tenho medo da ferida que não cicatrizou
Tenho medo do médico que também é monstro
Tenho medo da morte que separa pra sempre
Tenho medo do silêncio que atordoa
Tenho medo da música que não foi composta
Tenho medo da foto que já foi rasgada
Tenho medo da saudade do que não vivi
Tenho medo do que ainda não foi escrito certo por linhas tortas
Tenho medo do poder que corrompe
Tenho medo das esperanças amordaçadas
Tenho medo da sede
e da fome que não cessa com alimento
Tenho medo das injustiças, mas mais medo tenho das indiferenças
Tenho medo da mentira e das verdades que ferem
Tenho medo da pureza empurrada pelas janelas
Tenho medo dos poemas não-terminados
Tenho medo de ter medo...

domingo, 20 de abril de 2008

Ao piano






Tu tiras de ouvido
todos os meus sentidos

Sem me tocar
Compões os teus sonhos
com as minhas notas
que não se arranjam em si,
nem menor, nem melhor...nem em fá
nem lá...nem cá...

Com acordes silenciosos
transformas lágrimas em canção
sem dó, em mi, em ré...
em ti, em mim... em nós...

Tuas mãos e tuas melodias
aquecem minha alma
em sol maior...
e trazem cor aos meus dias...

terça-feira, 11 de março de 2008

Onírico





Pôr-do-sol de Porto Alegre, o mais lindo do mundo....
Nenhum pôr-do-sol é mais bonito do que o da minha aldeia, porque não é o pôr-do-sol da minha aldeia (Pessoa revisitado)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Chovia






Chovia quando meu olhar cruzou com o teu
e os meus lábios encontraram
tua suavidade

Chovia quando as palavras represadas
durante longa viagem
jorraram dos nossos silêncios

Chovia quando
os pássaros metálicos
saudavam o sono que não vinha
E em lugar dos sonhos
não havia nenhum canto...
Só o som de medo e da dor
das chegadas e partidas.

Chovia quando tuas asas se abriram sobre mim...
E por trás da cortina,
a lua escorregou de mansinho, curiosa,
para espiar na janela
o meu corpo sob o teu

Chovia ainda quando tua voz
sussurrou em minhas narinas
teu jeito de céu

Não era hora para aquele sim...
Não era hora para a lágrima que ensaiou cair...
Não era hora para a ternura que teimou em se fazer ouvir
porque chovia,
como chove agora dentro de mim...

Era só hora do gosto da sua pele
que ainda está em minhas mãos
e porque chovia
hoje precisei deixar brotar mais uma canção

Acho que perder você me fez morrer um pouco...